Supermercados adotam grades, lacres e armários para proteger o café após alta de quase 78% no preço em 12 meses.
O que antes era símbolo de acolhimento e rotina nas manhãs brasileiras, hoje virou produto trancado atrás das grades em muitas prateleiras. Em São Paulo, o café deixou de ser apenas um item essencial da cesta básica e passou a ser tratado como um bem de luxo. Com o aumento acelerado no preço e a explosão nos casos de furtos, redes de supermercados estão recorrendo a medidas rígidas de segurança, transformando a simples compra do pó de café em uma verdadeira operação. E não para por aí: azeite, bacalhau e até picanha também entraram na lista dos “protegidos”.
Supermercados trancam café em armários ou prateleiras com grades
Em regiões periféricas e até mesmo em bairros nobres de São Paulo, consumidores se deparam com uma cena inusitada: pacotes de café populares guardados sob chave, em armários ou prateleiras com grades. Em algumas lojas, o cliente só pode levar o produto para casa depois do pagamento no caixa — uma estratégia que remete à venda de eletrônicos ou bebidas alcoólicas.
Funcionários relatam que os furtos de café se tornaram tão frequentes que, em um único turno de trabalho, é comum flagrar tentativas de roubo. “Só hoje de manhã, duas pessoas já tentaram furtar os sacos de café. É muito constrangedor ter que abordar o cliente”, disse um atendente de um Carrefour Express na zona sul da capital.
Por que o café virou item de luxo nos supermercados?
Segundo dados do IBGE, o café registrou uma alta de impressionantes 77,78% no acumulado de 12 meses, o maior aumento entre todos os itens analisados no período. Entre fevereiro e março de 2025, o preço subiu 8,14%, o que só agravou a sensação de que o produto se tornou um artigo de luxo.
A situação levou metade da população a reduzir o consumo de café, de acordo com uma pesquisa do Datafolha. Ao mesmo tempo, o aumento do valor fez do produto um alvo preferencial de furtos, especialmente pelas características das embalagens mais populares, que são fáceis de esconder por não serem a vácuo.
Grades, lacres e estoque controlado: medidas de segurança se espalham
As redes Carrefour, Extra e Pão de Açúcar são as que mais adotaram essas práticas. No Mini Extra do Largo do Arouche, o café foi trancado em grades, enquanto azeites e bebidas ficaram em áreas próximas ao caixa, sob vigilância. Em outras unidades, a proteção inclui lacres e etiquetas antifurto — medidas que costumavam ser vistas apenas em produtos de alto valor, como eletrônicos e vinhos importados.
Empresas do setor reagem com cautela ao fenômeno
A rede Carrefour afirmou que a prática segue um padrão comum do varejo para itens de alto valor agregado. O Grupo Pão de Açúcar, por sua vez, reconheceu que a proteção de cafés não segue seus protocolos oficiais e que removeu as grades assim que soube do caso.
Já a JDE Peet’s, responsável pelas marcas Pilão, Caboclo, Pelé e Café do Ponto, declarou que as decisões sobre a exposição dos produtos cabem exclusivamente aos varejistas. Um promotor da marca revelou, no entanto, que só em uma unidade do Extra no Grajaú, mais de 300 pacotes de café Pilão foram furtados, o que levou o mercado a suspender temporariamente o abastecimento.
Azeite, bacalhau e picanha também viram “tesouros”
O café pode ser o símbolo mais visível da escalada de preços, mas não é o único. Azeites, bacalhau e cortes nobres de carne como a picanha também ganharam lacres, etiquetas e áreas exclusivas em supermercados paulistanos. Os produtos ficam muitas vezes em vitrines fechadas ou com acesso restrito.
“Comprei três pacotes de café e já foi o valor todo da minha compra”, disse uma consumidora ao conversar com um repositor em um supermercado da zona oeste. Já um empresário relatou que a picanha lacrada não o surpreende: “Está tudo tão caro que dá até medo de deixar no carrinho”.
Reflexo direto da inflação e da desigualdade social
O fenômeno dos cafés trancados é mais um retrato da disparada da inflação e do aumento da desigualdade. O que antes era acessível virou privilégio para poucos. A medida revela não apenas o medo do prejuízo por parte dos supermercados, mas também o tamanho da crise enfrentada por boa parte da população, que hoje precisa escolher entre o essencial e o possível.
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